domingo, 13 de junho de 2010

O LAGO

Assim, sempre levados em direção de novas plagas,
Na noite eterna arrebatados sem retorno,
Não poderemos nós jamais no oceano das idades
Lançar âncora um só dia?

Ó lago! o ano mal acabou seu curso,
E perto das ondas queridas que ela devia rever,
Olha! Eu venho só me sentar sobre esta pedra
Onde tu a viste sentar-se!

Tu bramias assim sob estas rochas profundas;
Assim tu te quebravas sobre seus flancos rasgados;
Assim o vento lançava a espuma de tuas ondas
Sobre seus pés adorados.

Uma tarde, te lembras tu? Nós vagávamos em silêncio;
Não se ouvia ao longe, sobre a água e sob os céus,
Senão o barulho dos remadores que batiam em cadência
Tuas ondas harmoniosas.

De repente sons desconhecidos na terra
Da margem encantada despertaram os ecos;
A onda ficou atenta, e a voz que me é querida
Deixou cair estas palavras:

“Ó tempo, suspende teu vôo! E vós, horas propícias”,
Suspendei vosso curso!
Deixai-nos saborear as rápidas delicias
Dos mais belos de nossos dias!

“Muitos infelizes aqui em baixo vos imploram:
Correi, correi para eles;
Tomai com seus dias os cuidados que os devoram;
Esquecei os felizes.

“Mas eu peço em vão alguns momentos ainda,
O tempo me escapa e foge;
Eu digo à esta noite: “Sede mais lenta”; e a aurora
Vai dissipar a noite.

“Amemos então, amemos então! Da hora fugitiva,
Apressemo-nos, gozemos!
O homem não tem porto, o tempo não tem margem;
Ele corre, e nós passamos!”

Tempos ciumentos, é possível que estes momentos de embriaguez,
Em que o amor em longas ondas derrama a felicidade sobre nós,
Fujam para longe de nós com a mesma velocidade
Que os dias de sofrimento?

Oh que! Não poderemos nós fixar-lhe pelo menos o vestígio?
Oh! passados para sempre? oh! inteiramente perdidos?
Este tempo que os deu, este tempo que os apaga,
Não no-los devolverá mais?

Eternidade, nada, passado, sombrios abismos,
Que fazei dos dias que vós devorais?
Falai: nos devolvereis estes êxtases sublimes
Que vós nos arrebatais?

Oh lago! rochedos mudos! grutas! floresta obscura!
Vós que o tempo poupa ou que ele pode rejuvenescer,
Guardai desta noite, guardai, bela natureza,
Pelo menos a lembrança!

Quer seja em teu repouso, quer seja em tuas tempestades,
Belo lago, e no aspecto de tuas sorridentes encostas,
E nestes negros pinheiros, e nestas rochas selvagens
Que pendem sobre tuas águas!

Que seja no zéfiro que estremece e que passa,
Nos ruidos de tuas margens por tuas margens repetidas,
No astro de face prateada que alveja tua superfície
Com suas brandas claridades!

Que o vento que geme, o caniço que suspira,
Que os perfumes leves de teu ar embalsamado,
Que tudo que se ouve, se vê ou se respira,
Tudo diga: “eles amaram!”

(Tradução Lucilo Varejão Neto.)

LE LAC

Ainsi, toujours poussées vers de nouveaux rivages,
Dans la nuit éternelle emportés sans retour,
Ne pourrons-nous jamais sur l’océan des âges
Jeter l’ancre un seul jour ?

O lac ! l’année à peine a fini sa carrière,
Et près des flots chéris que’elle devait revoir,
Regarde ! Je viens seul m’asseoir sur cette pierre
Où tu la vis s’asseoir !

Tu mugissais ainsi sous ces roches profondes;
Ainsi tu te brisais sur leurs flancs déchirés;
Ainsi le vent jetait l’écume de tes ondes
Sur ses pieds adorés.

Un soir, t’en souvient-il ? nous voguions en silence;
On n’entendait au loin, sur l’onde et sous les cieux,
Que le bruit des rameurs qui frappaient en cadence
Tes flots harmonieux.

Tout à coup des accents inconnus à la terre
Du rivage charmé frapperent les échos ;
Le flot fut attentif, et la voix qui m’est chère
Laissa tomber ces mots:

« O temps, suspends ton vol ! et vous, heures propices,
Suspendez votre cours!
Laissez-nous savourer les rapides délices
Des plus beaux de nos jours!

« Assez de malheureux ici-bas vous implorent:
Coulez, coulez pour eux ;
Prenez avec leurs jours les soins qui les dévorent;
Oubliez les heureux.

Mais je demande en vain quelques moments encore,
Le temps m’échappe et fuit ;
Je dis à cette nuit: « Sois plus lente »; et l’aurore
Va dissiper la nuit.

« Aimons donc, aimons donc ! de l’heure fugitive,
Hâtons-nous, jouissons !
L’homme n’a point de port, le temps n’a point de rive ;
Il coule, et nous passons ! »

Temps jaloux, se peut-il que ces moments d’ivresse,
Où l’amour à long flots nous verse le bonheur,
S’envolent loin de nous de la même vitesse
Que les jours de malheur?

Hé quoi! n’en pourrons-nous fixer au moins la trace?
Quoi !passés pour jamais? quoi ! tout entiers perdus?
Ce temps qui les donna, ce temps qui les efface,
Ne nous les rendra plus?

Éternité, néant, passé, sombres abîmes,
Que faîtes-vous des jours que vous engloutissez?
Parlez: nous les rendrez-vous ces extases sublimes
Que vous nous ravissez?

O lac! rochers muets! grottes! forêt obscure!
Vous que le temps épargne ou qu’il peut rajeunir,
Gardez de cette nuit, gardez, belle nature,
Au moins le souvenir!

Qu’il soit dans ton repos, qu’il soit dans tes orages,
Beau lac, et dans l’aspect de tes riants coteaux,
Et dans ces noirs sapins, et dans ces rocs sauvages
Qui pendent sur tes eaux!

Qu’il soit dans le zéphyr qui frémit et qui passe,
Dans les bruits de tes bords par ces bords répétés,
Dans l’astre au front d’argent qui blanchit ta surface
De ses molles clartés!

Que le vent qui gémit, le roseau qui soupire,
Que les parfums légers de ton air embaumé,
Que tout ce qu’on entend, l’on voit ou l’on respire,
Tout dise : « Ils ont aimé! »

(A. Lamartine.)

Méditations Poétiques. 1820.

Tradução de Lucilo Varejão Neto

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